Saga Final Fantasy: relembre a história da franquia na Nintendo

De parceira leal da Nintendo a traidora, a Square Enix volta a trazer sua maior franquia para o console híbrido da Big N.

Poucas séries têm uma trajetória tão respeitável quanto a franquia Final Fantasy. Com 15 jogos numerados e mais uma dezena de spin-offs, o primeiro Final Fantasy foi lançado pela Squaresoft (atual Square Enix) em 1985 para o saudoso Nintendinho. De lá pra cá foram lançadas várias sequências, sendo esta considerada uma das franquias de maior sucesso comercial, com mais de 144 milhões de cópias vendidas em todo mundo. Em setembro de 2018, durante a Nintendo Direct, foram anunciados os remasters de Final Fantasy VII, Final Fantasy IX, Final Fantasy X e Final Fantasy XII. Um desses jogos, o Final Fantasy VII, marcou o fim de uma parceria com a Nintendo que se mantinha desde o lançamento do primeiro jogo. Porém, com o sucesso do console híbrido da Big N, e as novas tendências dos mercados dos games, parece que o longo romance entre a produtora japonesa de RPGs e casa do Mario reacende novamente, trazendo para nós a possibilidade de jogar alguns dos maiores clássicos da história dos videogames onde quisermos. Venha conosco relembrar a história dessa parceria e fazer algumas conjecturas para o futuro.


1987-1997: A era de ouro dos JRPGs na Nintendo


Engana-se quem pensa que Dragon Quest e Final Fantasy foram os primeiros jogos eletrônicos que tentavam emular os RPGs de mesa e games orientados por enredo. Wizardry e Ultima já faziam relativo sucesso nesse nicho, e serviram como base para o primeiro Dragon Quest do NES. A diferença é que os JPRG eram mais amigáveis aos usuários. E foi essa a grande inovação dos jogos do gênero na terra do sol nascente. Final Fantasy trouxe mais facilidades para o jogador ao eliminar as batalhas em primeira pessoa e introduzir o sistema de jobs. A desenvolvedora e publisher do jogo, na época com o nome de Square Soft Co., não pretendia lançar sequências de seu jogo de RPG, por isso o nome Final Fantasy. Porém, o destino da empresa, que estava à beira da falência, mudou drasticamente com o sucesso do título. O primeiro game da franquia vendeu nada mais do que 400.000 cópias no Japão, e logo a parceira com a Nintendo era questão de tempo. E logo se transformou em fidelidade, visto que ambas as empresas prometiam “amor eterno”. A Squaresoft já chegou a dizer muitas vezes que nunca abandonaria a casa do Mario, e por isso não vimos jogos dela em nenhuma plataforma não-Nintendo até 1997.


Enquanto gigantes como Konami e Capcom pulavam no barco da Sega em meados dos anos 90, a Square permanecia fiel à Big N. Tudo indicava um casamento inabalável. Em 1991, o SNES recebeu o Final Fantasy IV, que conseguia aproveitar os benefícios do console de 16 bits da Nintendo, entregando um jogo com um enredo bem mais elaborado que os anteriores. O título também marcou o retorno da franquia ao ocidente, chegando aos EUA como Final Fantasy II. A produtora dava um passo importante para se diferenciar de sua principal rival na época, a Enix – responsável por Dragon Quest. Ao invés de centralizar na casualidade e no gameplay, a Square começava a investir em enredos épicos e seus jogos ficavam cada vez mais cinematográficos. Depois vieram Final Fantasy V, Romancing Saga, Secret of Mana, Final Fantasy VI, e o que para muitos é considerado um dos melhores jogos do Super Nintendo, e ápice da Square – Chrono Trigger. A união das duas produtoras ia tão bem que a Square ficou responsável pelo desenvolvimento de Super Mario RPG. Como todos sabem, a Nintendo não licencia seus personagens para qualquer desenvolvedora, principalmente quando falamos de suas franquias principais. Porém, os anseios da produtora de JRPG de fazer jogos cada vez mais cinematográficos, além de outros problemas, iam aos poucos abalando o namoro com a casa do Mario, e eis que o relacionamento chega ao fim.

1997-2009: Longe de casa


Apesar de manter parceria com diversas softhouses japonesas e ser responsável pelo sucesso de muitas delas, a Nintendo era conhecida por contratos não muito amigáveis. Durante a era dos 8 bits, a Big N que decidia quantos cartuchos cada jogo receberia e as desenvolvedoras deveriam comprá-los da Nintendo para produzir seus jogos. Essa sistemática não mudou com o SNES e não iria mudar com a chegada do Nintendo 64. Porém, algumas tendências abalavam os mercados de tecnologia em meados dos anos 90, e uma dessas era o CD-ROM. O disco laser, conhecido de quem está na casa dos trinta anos de idade, era bem mais barato que os cartuchos com chips – além de possuir capacidade de armazenamento muito superior. E, além disso, os CDs não eram mídias proprietárias – eles poderiam ser usados por qualquer empresa, em qualquer quantidade. Isso fez com que muitas desenvolvedoras migrassem para eles, e a Square não seria exceção.


Apesar do lançamento de Final Fantasy VII ser conhecido como o momento do fim da parceria Square-Nintendo, o caldo já vinha azedando há algum tempo. Em 1991, quando a Squaresoft estava desenvolvendo Romancing Saga 2, pediu à Nintendo um cartucho de 16 megas para poder dar uma boa polida no jogo. A casa do Mario negou o pedido, porém concedeu o cartucho de 16 megas para sua rival na época, a Enix. Dragon Quest V foi lançado em cartuchos de 16 megas e isso abalou o relacionamento entre a casa do Mario e a casa do Cloud. Para piorar, o jogo Seiken Densetsu 2 estava em fase final de desenvolvimento e seria lançado para o SNES CD-ROM (projeto da Nintendo com a Sony). Quando a parceria foi desfeita, sem avisar ninguém, a Square foi obrigada a jogar todo o trabalho que tinha desenvolvido no lixo, tendo que refazer tudo do zero para poder lançar no Super Nintendo. A Square resolveu revidar e foi diminuindo os pedidos dos cartuchos para seus próximos jogos. Como o pagamento para licenciar os jogos eram feitos antes do lançamento, a Nintendo entendeu a estratégia como uma afronta e a inimizade entre as duas empresas foi ficando cada vez mais evidente.


Foi nesse contexto que a Sony abordou a Squaresoft, de olho no próximo lançamento do jogo mais importante da empresa. Ela sabia que ter o próximo Final Fantasy em seu console seria fundamental para consolidar o Playstation no Japão, dada a popularidade e importância que a franquia tinha na época. Muitos dizem que o grande motivo do console da Sony desbancar a concorrência com a Sega, por exemplo, foi ter Final Fantasy VII em sua biblioteca. Sendo verdade ou não, ele foi o segundo jogo mais vendido do console da Sony. Dessa nova parceria surgiram mais cinco jogos numerados da franquia, além de outros excelentes títulos como Chrono Cross e Vagrant Story. A famosa exclusividade de Final Fantasy foi quebrada em 2009, com o lançamento de Final Fantasy XIII para Xbox 360. Era o fim das parcerias de exclusividade das desenvolvedoras third parties no mercado de videogames.

2016-2019: O bom filho sempre volta ao lar


Em meados de 2016, Cloud Strife, protagonista de Final Fantasy VII, foi disponibilizado como personagem jogável em Super Smash Bros do Wii U. Apesar da Square (agora fundida com a Enix) não ter totalmente abandonado a Big N, lançando alguns jogos para o Wii, DS e 3DS, os jogos numerados de Final Fantasy ainda estavam longe de casa. Apesar de ser apenas um personagem jogável em Smash, esse anúncio teve um grande impacto na comunidade gamer, pois foi justamente o Final Fantasy VII o jogo que marcou a debandada da produtora. Além disso, o remake desse Final Fantasy acabara de ser anunciado no ano anterior, dando esperança de que a franquia logo voltaria a casa do Mario. E foi o que aconteceu com o anúncio de 2018, feito no Nintendo Direct. Os principais jogos da era Playstation agora estão disponíveis para o Nintendo Switch, e a empresa guarda alguns lançamentos e novidades para os fãs da Nintendo.


Tivemos o sucessor espiritual de Final Fantasy VI, Octopath Traveler, lançado para o híbrido em 2018, anunciando uma nova parceria, mais madura e promissora. Hiroshi Yamauchi, presidente da Nintendo na época do N64 chegou a falar sobre a saída da Squaresoft: "se nos vão deixar, não voltem nunca mais". Os executivos da Square ficaram “proibidos” de entrar nos escritórios da Nintendo por 10 anos. Sim, o rancor entre as duas empresas foi grande, agravado pela cultura empresarial japonesa que encabeça valores tradicionais como honra e lealdade.


Porém as coisas mudaram muito de lá pra cá, e os negócios se tornaram mais o que eles são: negócios. Isso, inclusive pode acender a chama de esperança de vermos o remake de Final Fantasy VII chegar aqui na terra do encanador bigodudo. Se conseguiram portar The Witcher 3 para o híbrido da Nintendo, o esperado jogo da Square Enix poderá sim chegar para os fãs da Big N. É tudo uma questão de negócios, contratos, acordos. E para nós, resta a esperança dos próximos capítulos. Enquanto isso vamos curtindo os jogos de Final Fantasy já lançados para o Switch e esquecer das antigas rixas e disputas. As coisas mudaram muito de lá pra cá e vivemos na melhor época para jogar videogames.

Revisão: André Carvalho

Apaixonado por JRPG, fanboy de Final Fantasy, gosta de um bom papo de boteco com cerveja e Rock'n Roll. Escreve para a Game Blast pois sonha em ser escritor.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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