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Análise: Capcom Arcade Stadium (Switch) traz os jogos do jeito que você gostaria na era dos arcades

Basicamente um saco ilimitado de moedas para usar em máquinas modificadas da Capcom.




Nos últimos anos, a Capcom tem se esforçado para disponibilizar em múltiplas plataformas seu grande legado de jogos. Esse esforço tem se traduzido não só em seus remakes, como o de Ghosts 'n' Goblins e os da série Resident Evil, mas também em generosas coletâneas para PC e consoles de oitava geração. Entre essas coletâneas, podemos destacar Street Fighter 30th Anniversary Collection (Switch), de 2018, e as várias coletâneas de Mega Man que têm saído desde 2015, de Mega Man Legacy Collection (Switch) até Mega Man Zero/ZX Legacy Collection (Switch), de 2020.


Nesse contexto, insere-se também Capcom Arcade Stadium (Switch) que, em 2021, traz  a possibilidade de jogar vários de seus clássicos até então presos em máquinas de arcade das décadas de 1980 e 1990. A coletânea disponível na eShop oferece dois títulos gratuitos (um deles, só temporariamente) e outros que podem ser obtidos por três DLCs. Ao todo, você poderá desfrutar de 32 jogos de ação, especialmente dos subgêneros luta, tiro (shooter) e plataforma. Confira a lista abaixo:
  • 1943: The Battle of Midway (1987) — gratuito
  • Ghosts 'n Goblins (1985) — gratuito somente até 25 de fevereiro (necessário fazer download)

Dawn of the Arcade (1984–1988)

  • Vulgus (1984)
  • Pirate Ship Higemaru (1984)
  • 1942 (1984)
  • Commando (1985)
  • Section Z (1985)
  • Trojan (1986)
  • Legendary Wings (1986)
  • Bionic Commando (1987)
  • Forgotten Worlds (1988)
  • Ghouls 'n Ghosts (1988)

Arcade Revolution (1989–1992)

  • Strider (1989)
  • Dynasty Wars (1989)
  • Final Fight (1989)
  • 1941: Counter Attack (1990)
  • Mercs (1990)
  • Mega Twins (1990)
  • Carrier Air Wing (1990)
  • Street Fighter II (1991)
  • Captain Commando (1991)
  • Varth: Operation Thunderstorm (1992)

Arcade Evolution (1992–2001)

  • Warriors of Fate (1992)
  • Street Fighter II Turbo: Hyper Fighting (1992)
  • Super Street Fighter II Turbo (1994)
  • Armored Warriors (1994)
  • Cyberbots: Full Metal Madness (1995)
  • 19XX: The War Against Destiny (1995)
  • Battle Circuit (1997)
  • Giga Wing (1999)
  • 1944: The Loop Master (2000)
  • Progear (2001)
Todos esses títulos, de modo muito breve, aparecem no trailer de anúncio da coletânea.
Entre os jogos de luta, destacam-se as principais versões de Street Fighter II e vários tipos de beat 'em ups, como Final Fight, Dynasty Wars e Armored Warriors. Já entre os shooters, você encontrará principalmente top-down-shooters, como 1942 e Giga Wing, mas também alguns scrolling shooters, como Section Z e Forgotten Worlds, e isometric shooters, como Commando. Por fim, do subgênero de plataforma, vale destacar Mega Twins, assim como o clássico Ghouls 'n' Ghosts.

O único jogo que foge a esses subgêneros é Pirate Ship Higemaru, que é uma espécie de jogo de labirinto (maze game). De resto, alguns jogos também misturam os subgêneros supracitados. É o caso de Legendary Wings, que mescla gameplay de top-down-shooter com momentos de plataforma side-scrolling com tiro.






Feita essa introdução, confira nesta análise como, de modo geral, esses 32 jogos são apresentados na mais nova coletânea da Capcom, o quanto permanecem ainda interessantes ou divertidos, e quais recursos extras estão disponíveis para que se possa desfrutá-los ainda hoje.

É interessante observar que esta coletânea da Capcom possui interface em vários idiomas, inclusive o português. Nesta análise, algumas imagens estarão com interface em inglês; outras, em português. Porém, todos os jogos em si estão integralmente ou em inglês ou em japonês.

Jogando dentro de um fliperama, mas com as vantagens de um emulador

Capcom Arcade Stadium nitidamente se esforça para lembrar seus jogadores de que estão diante de títulos feitos para máquinas de fliperama. Afinal, a coletânea da Capcom permite não só que o jogador ajuste de várias formas o tamanho da tela para jogar os clássicos, mas também o conteúdo que aparecerá em suas bordas.

Além das customizações das bordas, também é possível expandir ou contrair as dimensões da tela, o que, dependendo do jogo, nem sempre traz resultados agradáveis. Veja um exemplo abaixo.





O mais interessante entre essas opções de customização está em você poder ver o jogo rodando em uma máquina de arcade. Infelizmente, ao menos para nós no Ocidente, as máquinas são mais aparentadas aos modelos japoneses, e não às máquinas do Brasil ou dos Estados Unidos que circulavam na década de 1990, repletas de ilustrações e adesivos.

Nesse modo de visualização, é possível ainda olhar para cima e observar parte do cenário da casa de jogos; ou para baixo, visualizando os botões e os joysticks da máquina. Ademais, após as clássicas telas de game over, é possível “inserir” uma moeda para continuar a jogatina normalmente, como de costume em casas de jogos (exceto no Brasil, onde as máquinas costumavam utilizar fichas).


Além do jogador contar com um número ilimitado de moedas para continuar sua jogatina após o game over, ele pode também salvar a qualquer momento e guardar vários saves de jogos diferentes. Também é possível retroceder o gameplay, tal como nos jogos de NES e SNES do Nintendo Switch Online.

Todas essas facilidades podem compensar a dificuldade em excesso que alguns jogos traziam à época para tirar mais moedas dos frequentadores de casas de jogos. Por outro lado, esses recursos podem tirar um pouco a graça do desafio de alguns jogos, já que o jogador não sofrerá praticamente nenhuma punição por levar dano ou mesmo morrer, uma vez que pode voltar exatamente para onde estava apenas inserindo uma moeda na máquina ou simplesmente retrocedendo o tempo.

Mas não se preocupe, isso não significa que a coletânea não traz modos mais desafiadores. É possível selecionar o modo de pontuação e jogar somente até o game over, registrando em um ranking qual foi a sua pontuação até aquele ponto do jogo e comparar com a performance de outros jogadores.

Uma última praticidade a se destacar é a lista de combos e especiais para jogos como Street Fighter II. Aqueles que já frequentaram os fliperamas na década de 1980 e 1990, ou mesmo nos anos 2000, provavelmente vão lembrar de papéis ao lado das máquinas com listas de golpes. Pois bem, em Capcom Arcade Stadium, essa lista é disponibilizada no próprio menu da máquina do jogo.




Quanto aos gráficos, há pouquíssima mudança em relação ao original. Nesse quesito, Capcom Arcade Stadium realmente deixa a desejar em variedade de filtros, bem como alterações mais específicas em iluminação, resolução e outros parâmetros técnicos.

Uma vasta biblioteca de jogos, mas com experiências muito semelhantes

Em comparação com outras coletâneas de clássicos da Capcom, esta contém um grande leque de opções, apesar de a maioria de seus títulos ser muito mais breve e de menor peso na indústria. De qualquer forma, esse grande número de jogos viria a seu favor se muitos deles, no entanto, não fossem tão semelhantes entre si, e, no fim do dia, não resultassem em experiências quase idênticas.

Vale ressaltar que não é como se faltassem clássicos dos arcades da Capcom para substituir títulos na coletânea. Jogos como Street Fighter III, JoJo´s Bizarre Adventure e muitos outros poderiam estar nessa biblioteca e certamente alguns fãs de suas máquinas sentirão falta.

Contudo, deve-se excetuar nesta crítica ao menos os jogos de pancadaria. Os beat 'em ups de Capcom Arcade Stadium são suficientemente diferenciados. Há o formato clássico, representado por Final Fight, mas também há  com temática do medievo japonês — como Dinasty Wars —, contando inclusive com montarias e armas como lanças e espadas; e até mesmo um beat 'em up com mechas, Armored Warriors.

Por outro lado, salvo exceções, há muitos shooters com aviões em perspectiva top-down com jogabilidade, gráfico e narrativa extremamente semelhantes. São exemplos os jogos 1943: The Battle of Midway, 1942, 1941: Counter Attack, 19XX: The War Against Destiny e 1944: The Loop Master.

O mesmo tipo de problema pode ser notado nas várias versões de Street Fighter II, ainda que seja interessante aos entusiastas da franquia compará-las entre si. Talvez, devido ao valor histórico nos arcades de outras versões de Street Fighter II, como Street Fighter II Turbo, seja mais fácil justificar o porquê de estarem aí. Mas não deixa de resultar, para a maioria dos jogadores, em uma falta de variedade de experiência nesse estilo de jogo de luta.

Talvez um outro tipo de jogo que esteja representado de forma variada, embora não em grande número, seja o subgênero plataforma. Afinal, títulos como Strider, Mega Twins e Bionic Commando são flagrantemente diferentes entre si, tanto em estética quanto em gameplay. Compare esses dois últimos nos vídeos abaixo:



Assim, em um balanço geral desses títulos, a biblioteca do Capcom Arcade Stadium consegue entreter por algum tempo tanto fãs de jogos retrô quanto aqueles que nunca experimentaram o ambiente e os jogos dos arcades. Mas ambos os grupos de jogadores podem se entediar com alguma facilidade, não só por verificar mecânicas datadas ou sentir falta de uma narrativa mais engajadora, mas também pela simplicidade e repetitividade do leque de jogos ofertados.

Falta de conteúdo extra e alguns problemas de adaptação

Diferentemente de outras coletâneas da Capcom, infelizmente o Capcom Arcade Stadium não traz nenhum conteúdo extra relevante para colecionadores ou para antigos frequentadores de suas máquinas de arcades.

Em coletâneas como as de Mega Man, a Capcom disponibilizou imagens e vídeos que aumentam o valor histórico e afetivo dos títulos da série, além de contribuir para o entendimento de sua lore. Há de se observar que esse tipo de conteúdo extra é especialmente importante para o relançamento de jogos retrô. Afinal, na era de ouro dos arcades no Ocidente, cartazes, propagandas e revistas eram tão ou mais fundamentais que o próprio jogo para que o público compreendesse e apreciasse seu universo ficcional.

Aliás, algumas das imagens que poderiam estar nesse “conteúdo extra” estão presentes no vídeo de anúncio do jogo, mas não estão inclusas na coletânea em si, o que é uma pena. E muito mais poderia estar lá, a fim de aumentar o valor histórico e afetivo desta coleção.




Ademais, outra coisa que pode prejudicar a compreensão e apreciação da lore de alguns desses jogos é a falta de legendas em inglês. É muito bom que a Capcom Arcade Stadium possibilite que o jogador alterne entre a ROM em inglês e a japonesa, pois certos jogos possuem variações significativas (inclusive no título) de uma versão para a outra. Contudo, há jogos que são disponibilizados unicamente em japonês.

Ainda que se trate de jogos nunca antes lançados no Ocidente, seria interessante que a Capcom os traduzisse para o inglês, assim como a Nintendo fez com Fire Emblem: Shadow Dragon and the Blade of Light (Switch) em seu recente lançamento ocidental. Provavelmente a tradução desses títulos japoneses em arcade não requisitaria grande esforço, uma vez que são poucos, curtos e sem muitos diálogos. No entanto, vale lembrar que alguns desses títulos possuem um apelo considerável no enredo, e infelizmente serão inacessíveis a praticamente todo o público ocidental.




Por fim, a adaptação dos controles das máquinas de arcade para os controles do Switch também não está isenta de problemas, mesmo que, de modo geral, a Capcom tenha feito um bom trabalho nesse aspecto.

O principal exemplo deve ser o das máquinas de Forgotten Worlds, as quais tinham também, além do usual joystick para mover o personagem, um dispositivo rotatório que possibilitava ao jogador girá-lo em torno do próprio eixo enquanto atirava. No Nintendo Switch, esse recurso foi substituído pelo emprego dos botões de ombro (R e L) para possibilitar o giro para a esquerda e para a direita. Realmente não é uma mecânica simples para se adaptar, mas, de todo modo, alguns jogadores podem não achar tão intuitivo no Switch como era originalmente.




Há também mudanças menores na adaptação desses jogos para o Switch, mas nenhuma parece tão relevante para o gameplay. Uma dessas, caso bata a curiosidade, foi recentemente noticiada aqui no Blast: o cenário do Honda em Street Fighter II.

Uma casa de jogos para levar a qualquer lugar

Na década de 1990, o sonho de muitos era ter em suas casas consoles domésticos capazes de rodar os jogos encontrados nos fliperamas. Mas somente hoje títulos como Street Fighter II e Ghosts 'n' Goblins, que também rodavam nos primeiros consoles da Nintendo, podem ser levados para fora de casa para qualquer lugar, inclusive em multiplayer local.

Mas, diferente do que possa parecer a alguém que tenha um primeiro vislumbre da nova coletânea da Capcom na eShop, isso não é tudo que essa coletânea proporciona. Na verdade, isso corresponde mais aos méritos do console em que está que propriamente aos dessa coletânea da Capcom. O trabalho da Capcom reflete muito mais na adaptação desse seu amado legado de jogos de arcade.

Apesar de conter muitos jogos que deixam o gosto de “mais do mesmo”, Capcom Arcade Stadium tem o mérito de trazer seus clássicos de fliperama o mais próximo possível de como eram jogados e, ao mesmo tempo, de fazê-lo de forma mais acessível e confortável. Sendo a acessibilidade e o conforto ofertados pelas várias customizações, ainda que limitadas, e pela remoção de antigas barreiras como a da limitação de moedas para se poder continuar a jogar após as telas de game over.

Esse duplo esforço — de preservação e de acessibilidade — é especialmente louvável ao se observar que muitos dos títulos dessa biblioteca ou foram pouco populares em seu tempo ou nunca antes estiveram nas mãos dos jogadores ocidentais e, no entanto, são importantes peças da história do mundo dos games. Só é uma pena que a falta de conteúdo extra audiovisual e imagético, bem como a barreira da língua japonesa em alguns jogos, ainda deixem o conceito e o contexto desses clássicos distantes dos jogadores da oitava geração de consoles.

De todo modo, Capcom Arcade Stadium é uma coletânea obrigatória para amantes de jogos retrô — especialmente fãs de shooters e beat 'em ups — e para entusiastas da história dos videogames. Muitos poderão não se sentir totalmente satisfeitos com o resultado do trabalho da empresa japonesa, mas com certeza só perceberão isso após várias moedas gastas nas máquinas emuladas da Capcom.

Prós

  • Boa ambientação de fundo em casa de arcades;
  • Ótimos clássicos para se conhecer;
  • Boa adaptação de controles;
  • Jogos divertidos, acessíveis e bem emulados.

Contras

  • Customização limitada em se tratando de filtros e outros recursos de emulação;
  • Falta de tradução para o inglês de alguns títulos inéditos no Ocidente;
  • Falta de conteúdo extra audiovisual ou imagético;
  • Muitos jogos parecidos.
Capcom Arcade Stadium – PC/XBO/PS4/Switch – Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Capcom

Doutorando em Filosofia que passa seu tempo livre com piano, livros, PC e portáteis. No Twitter, também é conhecido como Vivi. Interessa-se especialmente por narrativas de ficção científica, realismo mágico e alta fantasia política, e aprecia mecânicas de puzzle, stealth, estratégia e RPG. Seu histórico de análises pode ser conferido no OpenCritic e suas reflexões sobre RPG e game design encontram-se na SUPERJUMP (textos em inglês), bem como no Podcast do Vivi e em seu canal no YouTube.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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