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Análise: Spidersaurs (Switch) é um bom filhote das produções trash dos anos 1980

Um plataforma com o clima certo e cara de desenho animado.


A produtora WayForward vem, desde os anos 1990, galgando seu espaço entre os estúdios independentes. Passando por diversos trabalhos com marcas licenciadas como Contra 4 (DS), ela conseguiu um passo importante com a criação de franquias próprias de sucesso, como Mighty Switch Force (Multi) e Shantae (Multi).


Enquanto ainda não há data de lançamento definida para Advance Wars 1+2 Re-Boot Camp (Switch), a aguardada contribuição da companhia para revitalizar uma franquia da Nintendo, outro projeto chega ao console híbrido da Big N. Spidersaurs é uma investida mais acessível e bem-humorada no estilo consagrado por Contra, escolhendo uma temática bizarramente divertida como as produções trash dos anos 1980.

Aranhas e Dinossauros

Hollywood é uma indústria bilionária, com produtos que inundam os cinemas do mundo inteiro em busca de retorno financeiro. Contudo, como toda indústria, nem tudo é obra de arte, e produções de baixo orçamento também têm o seu espaço e importância. Por exemplo, James Cameron, reconhecido diretor de Exterminador do Futuro e Avatar, começou dirigindo e roteirizando Piranha 2: Assassinas Voadoras.
Vida curta à rainha
O clima divertidamente tosco desses filmes B é a inspiração para Spidersaurs. Neste run and gun, uma empresa de tecnologia busca resolver o problema de falta de alimentos em um mundo em crise climática. Para isso, usa de engenharia genética para trazer os dinossauros de volta à vida e vender sua carne à população. Uma falha de segurança, porém, faz com que as perigosas criaturas mistas de dinossauros e aranhas escapem. Cabe ao jogador caçar de volta os animais fugitivos antes que saiam das dependências da empresa e causem o terror na cidade.

A sinopse evidencia o absurdo da história, que obviamente não é o foco aqui e serve como pretexto para o humor. Ao iniciar um estágio, a tela apresenta frases como "bom apetite" ou "quem está com fome". O protagonista Adrian, apresentado na abertura como um policial, aparece na introdução da campanha entregando pizza, para "poder complementar a renda". O jogo está recheado dessas gags, que deixam o título simpático.

O lado bom que te prende na teia

Por falar em protagonismo, a dupla esbanja carisma. O policial utiliza um equipamento esportivo, enquanto a musicista Victoria dispara os tiros por meio da sua guitarra.

São experiências distintas jogar com cada um dos protagonistas. A diferença no equipamento não é apenas estética: os disparos com a guitarra da roqueira propiciam uma aventura mais próxima de Contra, enquanto as bolas de tênis de Adrian têm variações que tornam a campanha um pouco mais fácil.
Essa foi minha campanha no modo fácil. Na dificuldade média, passei das 24 horas de jogo.
A princípio, é possível selecionar a dificuldade do modo história. Na dificuldade mais baixa, os chefes morrem com menos tiros e o jogador conta com cinco vidas, enquanto nos outros modos a jornada é mais complicada e precisa ser enfrentada com apenas duas vidas.

Os cenários de Spidersaurs são clean, o que contribui para não haver poluição visual com animais e tiros voando pela tela. O aspecto geral é bastante agradável, lembrando desenhos animados.

Antes de iniciar uma missão, é possível escolher entre três drones (azul, vermelho ou verde). Ele aparece durante a fase e atingi-lo ativa um especial que varia conforme a cor selecionada previamente e ajuda a varrer os inimigos da tela.

Seguindo a linha de jogos de navinha, é possível pegar power-ups que deixam o tiro mais forte ou que mudam o tipo de disparo. Há armas com tiros que correm pelo cenário, magnéticas, explosivas, além do clássico três tiros de uma vez.
Carne com gostinho de habilidade nova.
Morrer significa voltar ao tiro básico, como acontece nos clássicos que inspiraram este título. Porém, aqui é possível equipar duas armas, trocáveis através do botão L ou R. A arma que não estava em uso na hora da morte mantém o tiro conquistado, possibilitando, assim, não recomeçar do zero em momentos cruciais e estabelecer estratégias.

Ao derrotar um chefe e terminar um estágio, ganha-se um pedaço de carne que fornece uma nova habilidade. Com pulos duplos e cordas para se pendurar no teto, dentre outros, o personagem vai evoluindo ao longo da campanha.

E os dentes que devoram parte da sua experiência

Alguns detalhes diminuem um pouco do prazer durante a jornada por Spidersaurs. O primeiro que chama a atenção são as legendas atrapalhando algumas piadas visuais.
Tive que correr para printar essa tela.
Entre um estágio e outro, a história volta ao laboratório onde os cientistas dão mais informações. Apesar do jogo ser dublado, as falas também aparecem legendadas com o personagem em questão fazendo uma pose. Esse letreiramento ocupa boa parte da tela, cobrindo muitas das piadas que ocorrem sem pausa.

Outra questão foi um problema que enfrentei e que talvez tenha de ser corrigido por patch de atualização. O jogo possui cinco missões, além da missão zero que serve de tutorial. Ao terminar a última fase no modo fácil, vemos um final com os cientistas dando as informações sobre as consequências da jornada de Adrian e Victoria.

No modo normal, porém, após o quinto estágio, chegamos a um epílogo que guarda o combate contra a verdadeira mente por trás dos eventos da história. Morri, como aconteceu tantas vezes durante minha jogatina, mas ao iniciar uma nova tentativa enfrentei uma tela preta. Meu medidor de energia estava lá e era possível ouvir os meus disparos, porém o problema persistiu seja morrendo, reiniciando o software ou mesmo iniciando um novo save. Infelizmente, não pude ver o final verdadeiro do jogo.
Eu estava “faminto” para ver o final

De onde veio esse ovo

Spidersaurs foi lançado originalmente em 2019 como um título mobile para aparelhos da Apple. Isso se reflete na estrutura do game, com fases curtas e uma campanha que pode ser terminada em poucas horas.

Outra herança da primeira encarnação do game é a simplicidade do menu. Não há muito o que se fazer além de ligar ou desligar o som dos efeitos, a música e a dublagem.

Uma tarde agradável no zoológico



Spidersaurs não reinventa a roda e nem almeja isso. Como um bom filme B, o jogo se escora em tudo que já foi feito no gênero run and gun e busca reaproveitar elementos-chave usando de muito bom humor. É como se fosse um Contra mais acessível feito para os tempos atuais, bastante agradável para se passar uma tarde. Competente no que se propõe, só lamento a tela preta que impediu minha jornada no epílogo.

Prós

  • As piadas funcionam;
  • Os elementos básicos de um run and gun são bem implementados;
  • A possibilidade de equipar duas armas permite traçar estratégias;
  • Jogar com cada um do protagonistas oferece experiências diferentes;
  • Os visuais são bastante agradáveis.

Contras

  • Legendas atrapalham algumas piadas visuais;
  • Bug impede de terminar o epílogo.
Spidersaurs — Switch/XBO/Xbox Series/PS4/PS5/PC — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital fornecida pela WayForward

Nascido no mesmo dia que Manoel Bandeira (mas com alguns anos de distância), perdido em Angra dos Reis (dos pobres e dos bobos da corte também), sob a influência da MPB, do rock e de coisas esquisitas como a Björk. Professor de história, acostumado a estar à margem de tudo e de todos por ser fora de moda. Gamer velho de guerra, comecei no Atari e até hoje não largo os mascotes - antes rivais - Mario e Sonic.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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