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Análise: WarioWare: Move It! (Switch) incentiva o movimento, mas faz corpo mole com seu conteúdo

O segundo jogo da série WarioWare para Switch diverte ao se inspirar no passado, mas traz poucos incentivos para ser jogado repetidas vezes.

Imagem de Wario em WarioWare: Move It! com roupas de verão segurando uma pedra com o formato de um Joy-Con e sorrindo.

Em um fim de 2023 cheio de grandes jogos, era certo que alguns lançamentos do período acabassem ofuscados por títulos monumentais, como Super Mario Bros. Wonder (Switch) e Marvel’s Spider-Man 2 (PS5). WarioWare: Move It! é o exemplo claro disso.


Lançado no começo de novembro, o título desenvolvido pela Nintendo em conjunto com a Intelligent Systems ficou esmagado entre a excelente nova aventura 2D do Mario e a nostalgia de Super Mario RPG (Switch). O game chegou e foi embora fazendo pouco alarde.

Porém, talvez não devêssemos culpar somente o timing ruim de lançamento por essa falta de empolgação. Embora Wario e seus amigos tragam microjogos com a diversão característica da franquia e uma nostalgia baseada em uma das melhores entradas da série, Move It! é oco em conteúdo, principalmente ao ser comparado com seus antecessores.

O passado e o presente

Quando o novo game foi anunciado, associações com WarioWare: Smooth Moves – lançado para Wii em 2006 – foram inevitáveis. Afinal, ambos desafiam os jogadores a concluir curtos microgames em velocidade cada vez maior usando diferentes poses com os controles de movimento.

Com o jogo em mãos, é possível notar que essa ligação com seu veterano de quase 20 anos atrás não fica só na jogabilidade. A apresentação de Move It! é bastante inspirada em Smooth Moves, só que refletindo a evolução da franquia até o momento.

Desta vez, a trupe da desenvolvedora WarioWare Inc. ganhou uma viagem para a Caresaway Island, uma ilha com atrações para todas as idades. Lá, visitantes são convidados a se mexer com as Form Stones – pedras suspeitamente parecidas com Joy-Con – como forma de atrair boa sorte.
Imagem de WarioWare: Move It! em que uma pessoa segura uma travessa com duas pedras no formato de um par de Joy-Con.
Form Stones… ou Joy-Con?


A premissa dos controles reais assumirem o papel de um artefato místico in-game é tirada diretamente do jogo de Wii e continua funcionando bem. Momentos humorísticos do antecessor, como as descrições esotéricas de cada pose, foram repaginados e ainda são capazes de tirar umas risadas dos jogadores.

Falando em humor, o tom nonsense da série permanece seu principal charme. Nessa viagem paradisíaca, cada personagem tem sua própria mini esquete no Modo História.

Os enredos incluem viagens no tempo, lutas contra pinguins musculosos, surfe em tubarões, ataques de plantas carnívoras gigantes, entre outras situações inesperadas e cômicas. Como a narrativa de cada nível se passa na mesma ilha, as cutscenes têm o ar de episódios de uma animação, trazendo mais unidade ao game.
Tela de descrição de WarioWare: Move It! da pose Sky Stretch, que mostra um texto em inglês descrevendo a pose e um modelo segurando dois Joy-Con, um em cada mão e levantando-os para cima.
As descrições humorísticas das poses, introduzidas em WarioWare: Smooth Moves, estão de volta


Além disso, as atuações de voz introduzidas em WarioWare Gold (3DS), mas parcialmente ausentes em WarioWare: Get It Together! (Switch), estão 100% de volta, agregando valor à apresentação do título. Embora os personagens não falem muito, suas vozes contêm bastante personalidade, ressaltando seus traços com qualidade.

Vale lembrar também que esta é a primeira vez que o ator Kevin Afghani interpreta Wario após a saída de Charles Martinet da franquia. Sua versão do protagonista é bem satisfatória e, em momentos, evoca a voz original do vilão; porém, será necessário um tempo para nos acostumarmos com essa mudança.

Eu me remexo muito

Como citado, Move It! evoca Smooth Moves ao máximo por meio da sua gameplay fortemente voltada aos controles de movimento. Nesse aspecto, foi feito um bom — mas não perfeito — trabalho.

Para superar os desafios curtos dos mais de 200 microgames, é necessário assumir 18 diferentes poses usando um Joy-Con em cada mão. As formas vão do comum, como fingir segurar uma espada ou uma corda, ao inusitado, como imitar uma galinha, agachar-se ou usar a câmera infravermelho do controle para capturar gestos com as mãos.

O humor bizarro da série está presente na maioria dos joguinhos. Uma hora, você pode estar ajudando a Branca de Neve a digerir uma maçã envenenada; na outra, fazendo força para botar um ovo ou balançando seu rabo para voar como o Mario Guaxinim. Por isso, quanto mais desinibido o jogador estiver ao posar, mais divertida a jogatina se torna.

Imagem de uma pessoa jogando WarioWare: Move It!. Ela está semiagachada, segurando Joy-Con nas mãos e colocando-os nas coxas. Ela está com uma perna levantada e, do outro lado da imagem, há um personagem esquiando em água no jogo, com uma perna levantada, desviando de um obstáculo.


Usar os Joy-Con é majoritariamente agradável, com respostas certeiras aos movimentos realizados. Porém, há um punhado de microjogos em que os controles não são tão precisos quanto deveriam. Eu e outras pessoas tivemos os mesmos problemas em certas atividades com comandos simples, indicando um problema geral nesses minigames.

Além disso, alguns desafios não são tão intuitivos à primeira jogada do que em títulos anteriores da franquia. Por exigirem movimentos com as duas mãos, determinados microgames precisam de repetidas tentativas até serem dominados.

No entanto, a principal falha do game como um todo é que seu design não estimula esse fator replay.

Vazio em conteúdo

Sem diferentes perfis de salvamento interno, Move It! é dividido em dois modos: o já citado Modo História e um Modo Festa focado na jogabilidade com duas a quatro pessoas.

No primeiro, passamos de nível a nível de forma linear, superando microjogos e acompanhando as curtas narrativas de cada personagem. Nada muito diferente de outros WarioWares, mas, na comparação com o passado, o jogo de Switch sofre com uma grande falta de conteúdo nesse modo. 

Não é algo gravado em pedra, mas já se tornou uma tradição da franquia trazer, além dos jogos supercurtos, uma série de minigames mais complexos e “bugigangas” desbloqueáveis que utilizam os controles do game de diferentes maneiras. Alguns desses itens eram destravados ao atingirmos uma pontuação específica em cada nível.

Gold e Get It Together aprimoraram ainda mais essa mecânica adicionando moedas in-game que podem ser obtidas alcançando boas pontuações, nos intervalos dos níveis e concluindo achievements. Elas então podiam ser trocadas por esses “souvenirs” ou por opções de customização.

Move It!, por outro lado, joga toda essa evolução fora. Tirando pontuais situações em que é preciso alcançar high scores definidos para desbloquear conteúdos, o Modo História é primordialmente só a sequência de microgames, sem bugigangas e com pouquíssimos minigames extras.
O minigame de tiro Dirty Job até dura algumas sessões de jogo, mas não muitas


O resultado é uma experiência que diverte, mas quase não tem recompensas, tirando a motivação da jogabilidade. O pior é que o título mostra resquícios de que poderia trazer um pouco mais de profundidade.

Por exemplo, ao perder todas as vidas jogando um nível pela primeira vez, o jogador é desafiado a fazer uma pose por três segundos para ganhar um continue. Essa é a mesma premissa das atividades que aparecem nos intervalos dos microgames; porém, nesse segundo cenário, as poses não valem nada. Uma pena, pois um desafio de risco e recompensa nesses momentos de pausa seria muito bem-vindo.

Microjogos com amigos

Se concluir o Modo História sozinho trouxe essa sensação de superficialidade, minha esperança se voltou ao multiplayer. Jogar com mais pessoas de fato preenche um pouco essa lacuna de conteúdo, mas não soluciona os problemas do game.

Move It! permite que dois jogadores joguem cooperativamente pela campanha principal e em outros modos. É aqui que a gameplay brilha, pois experimentar microjogos em dupla traz uma dinâmica única que requer não só habilidade individual, mas colaboração em atividades em que as duas pessoas devem superar juntas o mesmo desafio.
Imagem de jogatina multiplayer em WarioWare: Move It!. O jogador um está para jogar e ele está sendo desafiado para um tag-in challenge.
Cooperativamente, é possível recuperar uma vida perdida caso sua dupla não tenha conseguido vencer um microjogo.


Além disso, o game dispõe de abordagens criativas à cooperação, como no modo em que a pessoa com os Joy-Con deve ficar de costas para a TV e imitar os colegas que estão vendo a atividade na tela. Esse e outros momentos trazem risadas necessárias à gameplay.

Mas, quando entramos no Modo Festa, focado em experiências competitivas, a qualidade varia. Admito que não consegui me aprofundar em todos os minigames a tempo de publicar esta análise, mas o que pude notar é que há boas ideias e atividades mal-executadas.

Por um lado, Galactic Conquest apresenta um jogo de tabuleiro lento e extremamente focado em sorte e Listen to the Doctor exige muita boa vontade dos jogadores em realizar ações secundárias enquanto encaram microgames, desbalanceando a jogabilidade.

De outro, Medusa March é instigante ao obrigar os participantes a congelar suas ações, mesmo em meio aos joguinhos, para não virarem pedra; já o The Who’s in Control Show trabalha a observação ao desafiar as pessoas a descobrir quem de fato está no controle do microjogo.

Imagem de WarioWare: Move It! mostrando o modo Galactic Conquest, um jogo de tabuleiro espacial.


No entanto, mesmo com algumas atividades legais e outras nem tanto, uma coisa é certa: nenhuma delas se sustenta por muito tempo. Após experimentar cada uma, não há muito incentivo para jogar repetidas vezes.

Acessibilidade e localização

Todos esses problemas de design não se comparam ao principal obstáculo que encontrei: a falta total de recursos de acessibilidade. Detalharei minha experiência em um texto futuro, mas resumo aqui que Move It! não foi desenvolvido pensando nas diferentes condições e corpos dos jogadores com deficiência.

Os controles de movimento obrigatórios podem ser impeditivos para muitas pessoas com habilidades motoras diversas. No meu caso, mesmo com todas as adaptações possíveis, há microjogos que, no meio de um nível cada vez mais veloz, tornam-se impossíveis de vencer.

Por exemplo, atividades que exigem levantar diferentes dedos para a câmera infravermelha ou que demandam apertar os botões SL e SR são impraticáveis para mim, então é extremamente frustrante quando um desses joguinhos surge, pois sei que serei punido por algo fora do meu controle.
Imagem de microgame de WarioWare: Move It! que usa a câmera infravermelha do Joy-Con para captar gestos da mão do jogador.
Um dos microgames que não consigo jogar envolve fazer diferentes gestos para a câmera do Joy-Con


Facilitaria muito se houvesse uma seleção customizável dos microjogos que aparecem nos níveis; assim, somente aqueles que as pessoas conseguem jogar entrariam na rotatividade, garantindo uma experiência mais prazerosa.

Se pensarmos de forma mais ousada, por que não adaptar os controles de movimento a inputs com botões e analógicos? Sim, o game se baseia na premissa de mover os Joy-Con, mas fornecer mais opções de jogabilidade acabaria aumentando o leque de pessoas com acesso ao jogo.

Esse acesso também seria facilitado caso Move It! possuísse localização em português brasileiro. Embora os microjogos sejam de fácil compreensão, todos começam com um comando, como “Pule!” ou “Desenhe!”. Não ter esses verbozinhos no nosso idioma dificulta o aproveitamento total do título para quem não conhece outras línguas.

Uma viagem abaixo do esperado

WarioWare sempre foi uma série que utiliza ao máximo a tecnologia dos consoles da Nintendo. Seja com o Wii Remote em Smooth Moves, com a tela de toque em WarioWare: Touched! (DS) ou até mesmo com o GamePad no spin-off Game & Wario (Wii U), os games funcionam como boas demonstrações técnicas do que as plataformas são capazes de fazer.

WarioWare: Move It! segue essa tradição, mas muito tarde dentro do ciclo de vida do Switch. Caso estivesse entre os primeiros games disponibilizados para o hardware, possivelmente a novidade de jogar com os Joy-Con compensaria a falta de modos e conteúdos mais aprofundados.

No entanto, agora que estamos entrando no oitavo ano do console híbrido, o jogo não se sustenta somente com sua apresentação engraçada e poses divertidas para os microjogos. É preciso boas novidades para se destacar no grande mar de jogos de Switch — infelizmente, não é isso que acontece aqui. Essa viagem com Wario e sua trupe é daquelas que divertem, mas que, sem dúvidas, têm seus perrengues.

Prós

  • O humor nonsense da série continua intacto;
  • Ótima apresentação, com o retorno de atuações de voz;
  • O uso de poses para microjogos é divertido quando você solta suas inibições;
  • Modos multiplayer cooperativos e alguns competitivos bem desenhados.

Contras

  • Pontuais problemas de leitura dos controles de movimento;
  • Microgames inicialmente confusos quanto aos seus objetivos;
  • A falta de bons desbloqueáveis no Modo História desmotiva o progresso do jogador;
  • Certas atividades multijogador competitivas mal executadas;
  • A falta de opções de acessibilidade impede o aproveitamento do jogo por completo;
  • Ausência de localização em português brasileiro.
WarioWare: Move It! – Switch – Nota: 6.5

 Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo


Jornalista, analista de mídias, PcD e entusiasta de games desde que jogou Pokémon Azul no Game Boy Color nos anos 90. De lá para cá, tenta aproveitar ao máximo todos os consoles no pouco tempo que a vida adulta permite. Se não está escrevendo para o Blast ou demorando anos para zerar um jogo, está no Twitter (@DanielMorbi) e no Instagram (@danielmorbi_)
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