Resenha

Professor Layton and the Eternal Diva traz os enigmas das telinhas para as telonas!

Entenda como Eternal Diva conseguiu escapar da maldição que aflige filmes baseados em jogos e ainda incorporou vários elementos da série Professor Layton em sua história!


É comum que fãs se sintam apreensivos ao se depararem com anúncios de que seus jogos preferidos irão ganhar um longa metragem. Quando dizem que o longa será canônico (isto é, estará atrelado ao enredo principal da série) não tem como evitar sentir um frio subindo a nossa espinha como um misto de apreensão e ansiedade. Depois de filmes como a adaptação de Final Fantasy e Resident Evil (embora os de CGI sejam menos piores que o live-action), para não citar o Mortal Kombat, qualquer anúncio de um jogo novo se tornando filme é tratado com um pé atrás. Mas não com Professor Layton and the Eternal Diva!

Afinal, quem é este “Professor Leitão”?

Apesar de seu singelo começo,
a franquia conseguiu conquistar
o coração de muitos fãs
.
Para quem não conhece, Professor Layton é o protagonista de uma grande série de nome homônimo para as plataformas portáteis da Nintendo. Hershel Layton é um sofisticado professor e arqueólogo em uma universidade britânica e é o clássico esteriótipo do educadíssimo cavalheiro inglês. Junto ao seu ajudante, Luke Triton, o filho de um velho amigo, Layton embarca em uma série de aventuras que envolvem investigação e movimentação estilo point&click e a resolução de centenas (literalmente
centenas) de quebra-cabeças.

Quando estreou no Nintendo DS em 2007, com Professor Layton and the Curious Village, muitos se apaixonaram pela excelente trilha sonora e pelos viciantes enigmas que precisavam ser resolvidos para que o jogador prosseguisse na história. Após uma trilogia no DS, a Level-5, a produtora do jogo, anunciou uma segunda trilogia que serviria de prólogo para a original e se extenderia até o Nintendo 3DS, recebendo o seu último título esta semana, o Professor Layton and the Azran Legacy. A maior surpresa para os fãs, entretanto, foi o anúncio de um longa metragem, intitulado “Professor Layton and the Eternal Diva”.

Um filme de Layton? Basta apenas alongar as animações, oras!

Um dos principais fatores que proporcionaram a excelente transição do Professor das duas pequenas telas do DS para as telonas da sala de cinema foi o fato de que todos os jogos incluem dezenas de animações 2D nos principais momentos chave, além de diversas horas de diálogos impecavelmente dublados. As animações de qualidade absurda e cada vez melhor ao longo dos jogos da série eram um prato cheio para os fãs e os mesmos pediam cada vez mais e mais trechos animados, requisição que foi prontamente atendida pela Level-5 não só dentro dos jogos mas também na forma deste filme.

Cenas como essas levavam os fãs ao delírio e eram os prêmios por resolver os mais complicados enigmas!
Embora a presença de animações dentro do jogo tenham facilitado para que o Professor recebesse uma versão cinematográfica, o quesito de “como transformar em filme” não se extende somente à adaptação visual, mas temos também o problema da adaptação da identidade do jogo. Filmes de jogos de luta, aventura ou até survival-horror têm a facilidade de já existir gêneros de filmes que são diretamente compatíveis, como filmes de ação ou terror, mas um jogo de “puzzles e point&click” não tem um contraponto tão simples. Os enigmas, junto com o carisma dos personagens e a história, são os principais atrativos da série e não teria como pausar o filme no meio do nada para que os espectadores, cada um no seu tempo, resolvessem os mistérios apresentados antes que o enredo prosseguisse.
Até as cenas de créditos do filme seguem o padrão dos créditos ao final dos jogos. Simplesmente lindo!

A presença dos quebra-cabeças era essencial para o desenrolar do filme e para manter a identidade da série, sendo assim eles deveriam ser adaptados de alguma forma. A solução encontrada foi anexá-los ao enredo principal do filme de forma sutil mas ao mesmo tempo efetiva.

Resolvendo enigmas e ganhando a vida eterna.

Ao colocar o vinil da cantora para tocar, Layton
começa a relembrar o caso de quatro anos antes
A história de Eternal Diva se passa entre o primeiro e segundo jogo da nova trilogia. Ele se dá na forma de um grande flashback, no qual Layton e Luke relembram um caso que ocorreu pouco tempo após a descoberta da primeira ruína dos Azran, os Jardins Curativos, localizados em Misthallery, cidade na qual o pai de Luke é prefeito e que foi o estágio para a primeira aventura do pequeno aprendiz em conjunto com o professor, em Professor Layton and the Last Specter. Como em todos os seis jogos, Eternal Diva começa com uma carta na qual Janice, uma ex-aluna de Layton, relata o estranho acontecimento em que uma pequena garota clamava ser sua recém-falecida amiga de infância, Milena, que teria sido agraciada com o milagre da vida eterna. Janice também anexa dois convites para a estreia de uma operá na qual ela protagonizará.

Com a ajuda de Emmy Altava, a fiel assistente do professor, o trio se dirige ao teatro Crown Petone, para assistir à ópera do compositor Oswald Whistler, que também é pai de Milena, sobre o reino de Ambrosia - um místico local no qual foi descoberto o elixir da vida eterna. No local, o grupo se separa e, enquanto Luke e Layton seguem para o teatro, Emmy decide coletar informações sobre a garota que clama ser Milena. Logo após os primeiros minutos com a introdução do enredo e personagens, o tom da franquia é excelentemente executado na telona, mas não será no final da ópera que o espectador se sentirá completo.
Todos juntos para resolver o mistério da vida eterna!

Ao final do show, o narrador anuncia algo inesperado para Layton e seu aprendiz - o verdadeiro espetáculo irá começar! Trata-se de uma competição pela vida eterna. Vários enigmas são apresentados à todos no teatro, aqueles que acertarem continuam no jogo pelo elixir da vida, aqueles que errarem pagam o preço da derrota com suas próprias vidas. Embora tenha uma apresentação de um conceito ligeiramente mais macabro que de costume para a necessidade de resolver os quebra-cabeças, logo tudo se suaviza e quem assiste parece que está vendo um jogo do Layton sendo jogado sozinho.
Bem discreto, pode-se perceber a presença do Sr. Beluga, o homem baixinho e de bengala ao fundo, que é o dono do trem no qual Layton viaja em Diabolical Box.

Com o tema de quebra-cabeças proveniente de Unwound Future (o qual cedeu a base para diversos temas tocados ao longo do filme), todos os competidores presentes no navio têm até o momento da música parar de tocar para desvendar o enigma fornecido e nós, como reais espectadores, devemos nos esforçar para adivinhar a resposta antes que a música acabe e o Professor a resolva.

Segredos, Memórias e Civilizações Antigas

O roteiro do filme segue o que era de se esperar: ele vai mesclando enigmas (cinco apresentados pelo narrador e mais um discreto dissolvido na trama) com o desenrolar do enredo, que leva os personagens ao (não tão) perdido reino de Ambrosia. Com diversas revelações sobre quem é a garota que clama ser Milena, o segredo por trás de todo o “jogo da vida eterna” e quem orquestrou todo aquele maligno plano,o filme prende o jogador, digo, o espectador, até o seu climax que, tal como nos jogos, é o momento em que Layton explica todo o mistério e aponta para o culpado. Dentro dos games, entretanto, o momento tem um quê a mais por ser uma animação em meio a intermináveis diálogos e cenas estáticas, mas no filme, que é uma animação todo o tempo, a cena com o, discutivelmente, dedo indicador mais famoso do mundo dos jogos acaba perdendo boa parte de seu impacto.
A introdução do filme tem o seu próprio "finger pointing moment", para nos dar um gostinho do que está por vir.
Curiosamente, esse momento introdutório parece mais dinâmico e intenso do que o que ocorre no clímax do filme.

E continuação, vai ter?
No japão, Eternal Diva é conhecido como “Professor Layton First Movie”. O fato de ter um numeral no título faz com que fiquemos curiosos quanto à possibilidade da existência de um segundo Professor Layton Movie. Os planos originais da desenvolvedora, a Level-5, era alternar o lançamento de um jogo com um longa porém, nunca mais tocou no assunto. A boa receptividade da crítica no japão e ao redor do globo fizeram com que o filme vendesse bem, mas a única informação sobre uma sequência veio através da conta do Twitter oficial do Professor Layton, que prontamente o deletou alguns dias depois. Vale lembrar que, em 2010, essa mesma conta, que fala na primeira pessoa como se fosse realmente o professor, fez comentários sobre ter recebido uma carta o convocando para o “Great Smash Tournament”,na qual ele se deparou com um pequeno boxeador e um robô azul. Se pudermos acreditar nas profetizações dessa conta do Twitter, logo estaremos assistindo ao segundo filme em nossa TV enquanto controlamos o cavalheiro britânico dando bons sopapos a lá Smash Bros no Gamepad do WiiU.

No geral, Professor Layton and the Eternal Diva se trata de um excelente filme por si só e que deveria ser conferido por qualquer um que se interesse por animações bem feitas. Os personagens conhecidos acabam tornando o longa mais atrativo para conhecedores da série, obviamente, que se dirvertirão ainda mais caso prestem atenção nos personagens ao fundo e elementos do cenário, que darão espaço para inúmeras referências aos outros jogos da série. Com uma trama envolvente, excelente direção artística e se atendo aos principais aspectos do jogo, Eternal Diva se mostra como uma perfeita lição para qualquer desenvolvedora de jogos que pretenda transformar um de seus jogos em longa-metragem.
"Mas professor, e se até agora eu ainda não assistí o seu filme?"
"Ora Luke, meu garoto, um verdadeiro cavalheiro resolve suas pendências não importa quanto tempo leve!"

Revisão: Jaime Ninice
Capa: Leonardo Correia

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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