Crônica

#Mario30th: Super Mario Sunshine (GC)

Super Mario Sunshine (GC) reúne as maravilhas tropicais em um ambiente amplo, vivo, inteligente e nostálgico na segunda iteração em 3D da franquia.

Não é de hoje que ouve-se falar de Super Mario Sunshine como um dos melhores jogos da série Super Mario já criados. Anunciado na Nintendo Space World 2001 e, logo depois, mostrado na E3 2002, o jogo tropical de Mario reuniu o melhor da franquia em ideias novas e que souberam explorar muito bem as novas possibilidades do novo console da Nintendo até então. E o melhor, tudo isto em clima de férias, com muita praia, sol, vida tropical e um monte de aventuras. Quer saber como é pegar uma bela praia com a princesa Peach e sua turma para descansar um poucos das peripécias de Bowser? Então embarque nestas minhas memórias do jogo e boa nostalgia...

Tropicalismo emergente

Aos sete anos de idade, ganhei meu primeiro videogame, um Master System 3. Após um tempo alugando jogos e descobrindo a maravilha dos consoles, ganhei meu primeiro PC. Foi nesta época em que as jogatinas e compras da revista CD Expert foram dando lugar, aos poucos, às buscas online que viriam a nutrir meu hype por um novo console da geração de então. Já no Ensino Médio, portando um GBA clássico, tive de convencer a minha mãe a comprar meu último console de mesa como presente. Por sorte, a parceria da Nintendo com a Gradiente estava com força total no Brasil, e acabava de ser lançado um super desconto para o cubo roxo da Nintendo, o GameCube.

Época boa em que íamos nas lojas brasileiras para testar os novos lançamentos em consoles, o ano de 2002 nos presenteou com alguns testes em redes varejistas dos jogos de início de vida do videogame, e isso era motivo para festejar. Tivemos momentos felizes quando eu e meu primo fomos testar os novos Super Smash Bros. Melee, Pikmin, entre outros títulos de lançamento disponíveis nas lojas, todas com pessoal responsável da Nintendo pelos testes. Ainda, na compra de um console da Nintendo na época, tive a sorte de garantir um daqueles cupons que davam direito a uma revista Nintendo World, além do cartãozinho com o telefone do serviço de atendimento Nintendo Power Line.

Montado na Zona Franca de Manaus, o GameCube era o console dos sonhos de qualquer nintendista. Ainda que estivesse mais familiarizado com os jogos da Sega e de PCs (ficava curiosos sobre como existiam gamers tão apaixonados pela Big N), fui me acostumando, aos poucos, com o poder Nintendo da força. Junto de um Wave Race: Blue Storm, e diversos jogos alugados em locadoras (não era um trabalho muito fácil para encontrar aquelas que alugassem jogos para o GC), pude conhecer Mario Party 4, Sega Soccer Slam, Luigi’s Mansion, Resident Evil Zero, mas ainda faltava a cereja principal do bolo...
A jornada de um campeão...

Os mistérios de Isle Delfino

Na época em que tinha comprado o meu cubinho preto (o modelo nacional reservava duas cores, mas, posteriormente, o console apresentaria ainda diversos outros modelos do cubo), havia acabado de lançar o jogo Super Mario Sunshine. Ainda um dos títulos da parceria com a Gradiente (saudades de esperar o lançamento nacional para compra de consoles), o jogo apresentava manual em português (ainda que em preto e branco e por fora da embalagem) e voltava à era dos jogos que eram lançados quase que ou ao mesmo tempo no nosso país.

Já acompanhava as notícias deste novo Mario, entre revistas específicas de games e até outras menos voltadas, como via na escola, meses antes dele ser lançado. E também ficava ligado nas novidades, como na divulgação da capa do jogo, que vi na internet, em uma seção livre na sala de informática (perdão pela nostalgia excessiva) dentro da aula de inglês, o que rendeu um olhar e um sorriso meio bobo da professora ao me perceber observando a imagem alegre e estonteante da capa do jogo anunciada para o qual eu estava vibrando...
Repleto de referências tropicais, os mundos de Super Mario Sunshine abordam diversos aspectos de locais praianos, como portos, parques, vales, pousadas, bancos de areia e campo, esbanjando naturalidade e uma arte finíssima.
De posse do disco (na versão nacional e que ainda possuo), foi só pegar o controle do GameCube (que considero o melhor já feito até hoje) e começar a me aventurar por este novo mundo mágico de Super Mario. Em Isle Delfino, o clima de suspense toma conta nos minutos iniciais do jogo. Mario é acusado de pichar toda a ilha, injustamente. O culpado, para evitar spoilers (se ainda não jogou este título, por favor, jogue), é alguém muito próximo, mas que conseguiu a habilidade de se transformar em Shadow Mario. Dotado, então, do pincel dado pelo Professor E. Gadd (o mesmo de Luigi's Mansion), este ser, que lhe proporcionará desafios específicos, é o responsável por sujar toda a ilha com um M vermelho.
Um claro sinal de que "o crime não tira férias" #Simpsons

Férias no paraíso tropical

Posso garantir que minha primeira aventura no mundo em 3D de Super Mario (só fui conhecer o Mario 64 no Virtual Console) foi o suficiente para me tornar totalmente fã da franquia. E, como marinheiro de primeira viagem, imaginem qual foi a minha reação ao entrar no cano pela primeira vez e ouvir a musiquinha característica do submundo, de correr livremente pela ilha principal e descobrir segredos em cada cantinho de viela, em mergulhar nas piscinas e grandes mares com um sol de rachar acima, e até de limpar um pouco aquela sujeirinha na parede?
Um mundo enorme a ser explorado...
Para limpar a sujeira que fez, Mario recebeu um objeto muito útil (tanto no jogo quanto para os jogadores menos habilidosos com pulos em plataformas áreas) de E. Gadd, o chamado F.L.U.D.D. (Flash Liquidizer Ultra Dousing Device ou Ultra Dispositivo de Dosagem de Líquido Rápido; FLOOD também quer dizer enchente, em inglês). Era demais sair por aí molhando todo mundo e flutuando pelas casas. Com os upgrades em caixas, ainda podíamos usá-lo como uma hélice para correr mais rápido e até mesmo como um foguete, para pular ainda mais alto, saciando a minha vontade por jogos de corrida.
Os cenários de Super Mario Sunshine nos remetem muito a localidades e sensações do Brasil e Caribe, tais como o sentimento, em Sirena Beach, sem explicação, de estar em uma viagem a Acapulco.
Ala-ho-abanera-ae-la!...
Super Mario Sunshine foi capaz, com sua quantidade enorme de missões, segredos e cenários, de despertar o espírito aventureiro e encanador que havia dentro de mim. Um encanto que começava na pacata, e, no momento, conturbada, localidade principal e se estendia até os momentos finais de festividade do jogo. Seus dutos, ainda passando por localidades diversas dentro da ilhota em formato de Golfinho (uma clara alusão ao Project Dolphin, nome beta do GameCube), passava-me as mais diversas sensações:

    - Olá, nobre viajante, bem-vindo a Gelato Beach!
  • A calmaria dos mares brilhantes, bancos de areia, cabanas e gigantes coletores de energia solar de Gelato Beach, em que devíamos desviar de tantos Cataquacks dorminhocos, mas corredores;
  • Uma nostalgia e serenidade na calma e tropicalíssima Sirena Beach, cujo exterior do hotel trazia, e seus bancos de sol nos davam, a quietude em um ar amarronzado, justo para um pôr-do-sol belo e elegante, típico de um final de férias memorável e de um descanso merecido;
  • Da alegria eminente frente aos brinquedos gigantes de Pinna Park, onde o medo de altura não tinha limites. E também onde a festa de visuais coloridos estava em qualquer lugar, até nos mais escondidos, como nas grades banhadas por água caindo bem atrás do parque;
Uhuuullll!!!
  • De um espírito aventureiro em uma Noki Bay, com gigantes colunas e vales com segredos revelados aos poucos, cavernas internas vazias e um mar obscuro e precioso, que nos davam a sensação de estar em um típico jogo da Lara Croft ou em um cenário Hollywoodiano de Indiana Jones;
  • Essa tal artística sensação de estar em frente à belas obras de arte em polígonos e cores pinceladas ao se pendurar nas grades de Ricco Harbor, e a diversão de correr com o jato nas águas geladas locais;
Chaim Chomps em chama pedem socorro...
  • Na tranquilidade e ar fresco dos moinhos de vento de Bianco Hills, quando ia pulando de tronco em tronco até alcançar cavernas, ou de se equilibrar em uma corda gigante no meio do local a uma altura que não acabava mais;
  • E de uma relaxante noite na floresta dos Piantas em Pianta Village, para pular em piscinas quentes naturais, apagar Chain Chomps em chamas e ajudar um ovo Yoshi.


Também não podíamos deixar de falar dos cenários especiais, em que não tínhamos o F.L.U.D.D. para nos ajudar, e das passagens com nosso fiel escudeiro de aventuras, Yoshi. Muito importante nas fases, o dinossaurinho amigo também dá uma grande ajuda com os sucos produzidos ao comer frutas. Mas, cuidado: ele odeia água, desintegra-se e volta ao ovo caso se molhe.

Um Mario para não esquecer, jamais...

Super Mario Sunshine foi um jogo épico, no melhor sentido da palavra. As características multimídias agradam bravamente naquela época 128-bit com um brilho tão caro e gráficos com detalhes nunca antes vistos num console, além de música ambiente ricamente selecionada para construir o clima típico de uns bons dias de férias havaianas. Em sua época, o jogo figurou entre os dez melhores do ano, com altas pontuações nas revistas especializadas, o que lhe rendeu uma versão Player's Choice. Como parte de sua perfeição, posteriormente, estudos apontaram ainda que o jogo estimulava as pessoas a serem mais prestativas na vida real.

Vou ficar aqui só na espreita, aguardando o momento certo...
Tive muitas histórias com Super Mario Sunshine. De alpinista a corredor, passando por profissões como faxineiro — quando tive de limpar sujeiras locais com jatos de água — e encanador — ao passar por tubulações subterrâneas da ilha. Não foram os poucos momentos em que me diverti ao lado de Mario e de Yoshi em aventuras agradáveis, criativas, abertas e com aquele quê de desafiador. Mas o melhor de tudo é sempre poder pegar o seu disco em alto relevo e poder ligá-lo no console em um final de semana, para reviver grandes aventuras com todo aquele clima praiano característico, na busca dos 120 Shines.
Super Mario 64 (N64) Índice New Super Mario Bros. (DS)

Revisão: Vitor Tibério
Capa: Diego Migueis

Jaime Ninice é cravista, formado pela UFRJ, e mestre em música na mesma instituição. Sua paixão por games, eventos e revistas o levou a escrever e revisar artigos desde 2010 no @Blast. Hoje é redator das publicações impressas sobre retrogames WarpZone.me
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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