Resenha

The Legend of Zelda: Oracle of Seasons/Ages é um mangá que eleva a narrativa dos jogos de Game Boy Color

The Legend of Zelda: Oracle of Seasons e Oracle of Ages (GBC) é uma dupla de jogos lançados simultaneamente em 2001, com a peculiaridade d... (por Victor Vitório em 27/02/2023, via Nintendo Blast)


The Legend of Zelda: Oracle of Seasons e Oracle of Ages (GBC) é uma dupla de jogos lançados simultaneamente em 2001, com a peculiaridade de serem duas aventuras separadas que liberam códigos com os quais os jogadores podem conectá-las as duas campanhas para acessar uma nova etapa final, na qual é revelado o verdadeiro inimigo; “spoiler”: é Ganon.

Outra peculiaridade está no desenvolvimento dos títulos pelas mãos da Capcom em parceria com a Nintendo, o que aconteceu novamente poucos anos depois para a produção de The Minish Cap (GBA), cujo mangá já analisei aqui no Nintendo Blast.



Tal como aconteceu com A Link to the Past (ALttP) e Ocarina of Time (OoT), também já analisados, os dois Oracles também receberam uma adaptação para mangá pela dupla de autoras que trabalham sob um único pseudônimo, Akira Himekawa. Para facilitar, chamarei os jogos de OoS/OoA e os mangás de Seasons/Ages.

As histórias de Hyrule

Quando Hyrule Historia encaixou toda a série The Legend of Zelda em uma cronologia ramificada em linhas temporais, colocou OoS/OoA após ALttP e antes de Link’s Awakening (que não tem mangá), concluindo que é o mesmo Link que estrela as quatro aventuras. Os mangás, criados antes dessa estruturação, seguem rumos distintos e as histórias não apresentam vínculo direto, tratando os jogos como recriações isoladas do mito do herói da Triforce, como vimos na análise de ALttP.



Com isso, diferente de OoS, que começa com Link já herói, enviado em uma missão pela princesa Zelda, o mangá correspondente apresenta um protagonista mais novo, trabalhando na fazenda dos avós, semelhante ao que ocorre no mangá de ALttP, em que vemos a relação com o tio enquanto trabalham no pomar de maçãs.

Himekawa sempre dá importância à família do rapaz, adicionando camadas de personagem que os jogos preferem não desenvolver ou nem mesmo mencionar, com poucas exceções. A personalidade de Link também é um bom desenvolvimento apropriado para a forma dos quadrinhos, com mais flexibilidade narrativa que os games.



Em Seasons, Link tem humor leve e descontraído, sem querer se envolver com a tradição de cavalaria de sua família, imposta pelo avô. No entanto, o senso de responsabilidade para com os idosos e a vontade por aventuras falam mais alto. Ele está crescendo e quer entender o que isso significa. 

Seasons e Ages optam pela unificação das histórias, representando-as como duas metades de uma única saga, começando por Seasons. Infelizmente, as duas partes têm vilões individuais e desinteressantes.

Se em ALttP Himekawa deu uma história de fundo a Agahnim e, em OoT, Ganondorf faz temível contraponto a Link como representante de um vértice da Triforce, em Seasons/Ages o general Onox e a feiticeira Veran não passam de vilões unidimensionais que adoram ser malvados e conspiram em nome de um misterioso mal maior, sem qualquer nuance. Até as aparências são caricatas e eles sempre riem alto para mostrar como são maus.



A trama de Seasons é bem direta ao ponto: um vilão sequestra uma mulher, o herói inexperiente parte para salvá-la, conhece aliados e, contra as expectativas, vence o inimigo e a paz retorna. Ages, por sua vez, traz uma narrativa menos minguada e mais dinâmica, embora ainda abaixo do nível de ALttP e, especialmente, OoT. A continuação é mais interessante, como veremos adiante.

Longe de Hyrule

A dupla de jogos da Capcom parece seguir a linha de Link’s Awakening (GB), no sentido de considerar os Zeldas feitos para consoles portáteis como spin-offs da série. Digo isso porque as campanhas não se passam em Hyrule e a própria princesa Zelda serve apenas para manter o título dessas lendas que, na verdade, são de Link.

Com as poucas páginas proporcionadas por um volume de mangá, Himekawa precisou fazer escolhas e cortes. Com isso, os novos povos apresentados em cada jogo desapareceram da história —os habitantes do mundo inferior de Subrosia, em Seasons, e o povo lagarto Tokay que vivem na Ilha Crescente, em Ages —. dão as caras em apenas um quadro em seu respectivo mangá, não passando de simples easter eggs para reconhecer sua existência.



Oracle of Seasons

Em Seasons, Link é transportado pela Triforce para a terra de Holodrum, onde encontra Din, a Oráculo das Estações que dá nome ao jogo. Como ela é raptada por Onox imediatamente no início do jogo, o mangá prefere fazer Link conviver com Din e sua trupe por mais tempo, dando a atenção merecida à personagem.

O restante de Holodrum é apenas uma série de locais perigosos para a aventura seguir em frente, mais como o nome de uma região em geral do que um reino com história, povos e culturas. Link encontrará monstros, animais falantes e o templo onde está o Cetro das Estações antes da luta final. História bem insossa, mas com personagens simpáticos, especialmente Din. Voltarei ao elenco de Seasons mais adiante.



Oracle of Ages

Ages segue por outro caminho. Desde o começo, Link e Impa são enviados por Zelda para o reino de Labrynna, onde devem encontrar e proteger Naryu, a Oráculo das Eras. Mesmo assim, ela é – pasmem! – raptada pela feiticeira Veran, que tem o terrível poder de possuir corpos, usando Naryu para se transportar ao passado e destruir a história do reino.

Como disse antes, Himekawa tende a presentear o jovem herói com parentes e o melhor caso está nesta história. Aproveitando que Link viaja séculos ao passado, as autoras introduziram um cavaleiro, antepassado do pequeno hylian e, juntos, fazem lembrar as duas idades de Ocarina of Time, com a diferença de que o “Link” adulto interage diretamente com a versão original criança.



O nome do cavaleiro é Levan (em inglês o chamam de Sir Raven, não sei qual é mais correto) e ele é o ponto que une todos os fios da trama: os cavaleiros de Labrynna; os camponeses; a vila secreta; a rainha Ambi, que se tornou tirana pela influência de Naryu possuída por Veran; a resistência que combate a opressão e as pessoas da vila secreta onde se escondem. Como criação de Himekawa, Levan tem ainda mais impacto na história do que Ganty teve em ALttP.





As mangakás também aproveitam para elaborar uma história apenas mencionada no jogo, dando mais contexto à rainha Ambi e abrindo margem para levar a aventura ao convés de um navio pirata fantasma.

Apelo infantil

Em comparação às outras obras, Seasons/Ages têm um tom mais infantil. No Japão, as editoras classificam os mangás por gêneros baseados na demografia. Todas as HQs de Zelda de Himekawa pertencem ao meio shounen, mangás para meninos, e, exceto por Twilight Princess, foram publicadas em revistas voltadas para a faixa etária de 10 a 12 anos.

Ainda assim, é possível ver que alguns têm mais apelo infantil que outros e, comparando as histórias, ambos os Oracles ficam no meio-termo: nem tão leve e simples quanto The Phantom Hourglass, nem tão focado e heroico como The Ocarina of Time e A Link to the Past.



O tom juvenil é bem mais acentuado em Seasons pelas escolhas lúdicas de companheiros para Link. O primeiro é Piyoko, um pintinho da fazenda de Link que vai com o herói para Holodrum, onde passa a falar língua de gente. Depois, é a vez de Ricky, um canguru pugilista que parece mais algo que veríamos na série Kirby do que em Zelda. Por fim, há Maple, aprendiz de feiticeira, uma menina irritante que tenta roubar o Cetro das Estações de Link.

Ricky e Maple de fato estão no jogo, mas ele é apenas um meio de transporte, enquanto ela faz parte de um minigame que pode acontecer aleatoriamente em vários locais do mapa. A centralidade desse trio infantil não é um problema do mangá, sendo parte da identidade lúdica planejada por Himekawa para diferenciar esse volume das demais adaptações que já haviam criado.



Junto a Link, o quarteto forma um dos temas mais presentes nos mangás shounen: a amizade. Piyoko é pequeno, mas tem senso de justiça e lealdade; Ricky se inspira em Link para ser mais forte e superar seus medos; já Maple é uma tsundere (personagem pouco amistosa que às vezes deixa transparecer seus bons sentimentos) que aprenderá a deixar de lado sua petulância e individualismo em prol daqueles que se importam com ela.

Ages também tem seu crianção, Ralph, o amigo nobre de Naryu que mais parece um palhaço em suas roupas ridículas. Ele atua como rival de Link e é rude, ranzinza e patético, mas muito determinado quando se trata de salvar a amiga amada. Como reza a cartilha dos rivais de shounen, Ralph se torna um aliado digno para o protagonista.



O oráculo dos mangás

Para mim, o volume que combina as duas histórias começa fraco, mas fica razoável quando considero o conjunto como um todo. Não tem a qualidade de ALttP e OoT, mas não é fraco como The Phantom Hourglass. Eu diria que está no meio-termo, ondulando em altos e baixos como The Minish Cap e Four Swords, que será o próximo volume da coleção Perfect Edition da Editora Panini de que falarei aqui, talvez ainda em março. Até lá!
Mangá adquirido pelo redator
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli

Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google