Blast from the Past

Breath of Fire (SNES): a ótima origem de uma carismática série de JRPGs

O primeiro RPG da Capcom explorou conceitos tradicionais do gênero em um mundo vasto e repleto de personagens cativantes.


Os assinantes do serviço online do Switch agora têm à disposição uma biblioteca recheada de títulos originalmente lançados para o SNES. É a oportunidade de conhecer ou revisitar alguns dos clássicos que foram responsáveis pelo imenso sucesso da plataforma de 16-bits da Big N. Para melhorar ainda mais sua experiência com esses games, o Nintendo Blast está preparando uma série de matérias com detalhes e curiosidades sobre cada um dos jogos presentes no catálogo. Hoje é o dia de falarmos de Breath of Fire.

Um novo mundo para a Capcom

Nas décadas de 1980 e 1990, a desenvolvedora nipônica Capcom era conhecida por seus títulos de ação, como as séries Mega Man e Street Fighter. Em 1993, no Japão, foi lançado Breath of Fire, o primeiro RPG da companhia. O título foi produzido por Tokuro Fujiwara (o criador da série Ghosts ‘n Goblins) e Yoshinori Kawano (que futuramente trabalhou nas séries Mega Man Zero e Mega Man Legends). O jogo também contou com a participação de Keiji Inafune, o criador de Mega Man, que fez o primeiro design dos personagens — durante o desenvolvimento ele foi substituído por Tatsuya Yoshikawa, que aproveitou o trabalho de Inafune.

O RPG chegou ao Ocidente em 1994 e foi publicado pela então Squaresoft (hoje Square Enix), mesmo já existindo a Capcom USA. A desenvolvedora de Final Fantasy foi responsável pela tradução e adaptação de Breath of Fire, pois a divisão ocidental da Capcom não tinha experiência na localização de títulos com muito texto, além de estar ocupada também com Breath of Fire II. A adaptação não foi das melhores, principalmente por causa de questões técnicas — os espaços para nomes de personagens e itens eram reduzidos, o que resultou em mudanças e abreviações estranhas. Um detalhe curioso é que a Squaresoft deixou de lançar Final Fantasy V no Ocidente para trabalhar em Breath of Fire.

O eterno conflito entre os clãs do dragão

O mundo de Breath of Fire é habitado por diferentes clãs de animais antropomórficos. Um dos clãs mais poderosos era o dos dragões, cujos os membros são humanos capazes de se transformar nas imponentes criaturas dracônicas. O grupo se dividiu em dois — Light Dragons e Dark Dragons —, durante uma guerra incitada pela deusa Tyr, que prometeu realizar qualquer desejo dos vitoriosos. O mundo quase foi destruído por causa do conflito, que só teve fim quando um herói dos Light Dragons selou a deusa da discórdia com seis chaves mágicas.


Muitos anos se passaram e os dois clãs continuam em guerra, mas de maneira velada. A aventura começa quando Ryu, um dos poucos sobreviventes dos Light Dragons, tem um sonho estranho em que um dragão diz que o perigo é iminente. Quando o rapaz acorda, sua vila está em chamas por causa de um ataque dos Dark Dragons. No meio do caos, Sara, a irmã de Ryu, é raptada pelo líder do clã das sombras, que pretende libertar a deusa Tyr e conquistar o planeta. Sem outra opção, Ryu sai em uma jornada a fim de salvar sua irmã e impedir os planos do vilão.

No decorrer da aventura, Ryu encontra inúmeros aliados curiosos. Nina é a princesa do reino de Wyndia e tem asas nas costas, como um anjo. Bo é um lobo que decide se unir ao protagonista por desejar derrotar o líder dos Black Dragons. Já o peixe-mercador Gobi é expulso de seu clã por ser ganancioso e decide ajudar Ryu a explorar o fundo do oceano. Uma das mais curiosas é Bleu, uma poderosa feiticeira meio-serpente que tem a mania de ser arrogante e desbocada. Os personagens apresentam personalidades marcantes e bem desenvolvidas. Muitas das características da série foram introduzidas em Breath of Fire, como a presença constante de diferentes versões de Ryu e Nina em todos os títulos e a existência dos animais antropomórficos.

Uma aventura de aspectos convencionais

Não é só na luta do bem contra o mal que Breath of Fire mostra as suas inspirações clássicas: na essência, o jogo é um RPG bem tradicional da década de 1990. A aventura é dividida em momentos bem definidos. Nas cidades, podemos conversar com pessoas em busca de informações, comprar itens e equipamentos e descansar em estalagens. Já os calabouços apresentam mapas complexos e puzzles, sendo que a presença de inimigos é constante. Por fim, viajar pelo mundo se dá por meio do mapa-múndi.

O diferencial do RPG da Capcom está na riqueza de detalhes de seu mundo, que é extenso e repleto de segredos, como baús que não conseguimos alcançar em um primeiro momento ou puzzles na forma de enigmas. Um detalhe muito legal de Breath of Fire é que cada personagem apresenta uma habilidade de interação única: o lobo Bo atira flechas para caçar animais e acertar alavancas distantes, o ladrão Karn é capaz de destrancar baús e portas, o touro Ox quebra pedras e paredes com socos, Mogu é uma toupeira que consegue cavar em pontos específicos, e assim por diante. Muitos dos segredos e equipamentos poderosos só podem ser acessados por meio dessas técnicas, o que nos incentiva a revisitar partes do mundo em busca deles.

Já os embates contra os monstros acontecem no habitual combate por turnos. O conceito principal das batalhas é bem simples e consiste em escolher um comando no menu, como atacar, lançar feitiços ou executar técnicas especiais, usar itens ou fugir. Até quatro heróis participam dos combates, sendo possível trocar um personagem atual por outro da reserva a qualquer momento. A estratégia de Breath of Fire consiste em escolher a formação de heróis de acordo com a situação, o que é essencial, pois os monstros podem ser bem poderosos, especialmente os chefes. Um detalhe legal é que Ryu pode se transformar em diferentes dragões, o que altera significativamente seus atributos. Além disso, Karn pode se transformar em criaturas poderosas ao se fundir a certos heróis.

Fora esses detalhes, Breath of Fire é lembrado pela parte técnica. O visual é simples e colorido, no entanto é bem competente. As cenas de batalha, em especial, eram bastante notáveis na época: os heróis e os monstros tinham proporções reais, e os inimigos apresentavam boas animações. Outros jogos similares lançados no mesmo período não demonstravam o mesmo grau de polimento de Breath of Fire. Já a trilha sonora é de autoria da equipe Alph Lyla, composta por Yasuaki Fujita (Final Fight, Metal Slug), Mari Yamaguchi (Mega Man 5), Minae Fuji (Mega Man 4) e Yoko Shimomura (Super Mario RPG, Kingdom Hearts). Um ponto bacana é que a música da batalha e do mapa-múndi se alterava conforme o progresso na aventura.
Breath of Fire tem algumas participações especiais curiosas:
  • Arthur, o protagonista de Ghosts 'n Goblins, aparece em quadros espalhados pelo mundo;
  • O chefe Goda é visualmente similar a Stone Man de Mega Man V, o que é justificável, afinal Keiji Inafune participou da produção do RPG;
  • Chun-Li, de Street Fighter, pode ser vista em uma cidade do jogo ao responder corretamente uma sequência de perguntas;
  • Uma cidade chamada Romero é referência a George Romero, diretor de filmes de zumbi, como A Noite dos Mortos Vivos. Curiosamente, a vila no jogo apresenta pessoas com comportamentos similares aos de mortos-vivos.

O início de uma franquia notável

Breath of Fire é um JRPG bem tradicional, que explora algumas ideias interessantes. O andamento da aventura e o combate por turnos reproduzem os conceitos básicos do gênero, como era de praxe na época. Mesmo assim, o jogo da Capcom tem identidade própria ao apresentar personagens interessantes, puzzles mais elaborados e um sistema de habilidades que incentiva o jogador a revisitar áreas em busca de segredos. O título foi lançado também para Game Boy Advance e contou com algumas pequenas novidades, como menus retrabalhados e novas ilustrações. Contudo, ele foi criticado por sua paleta de cores diferente e áudio piorado. No fim, Breath of Fire é um ótimo RPG que envelheceu bem, além de ser também a origem de uma série muito querida (que, infelizmente, hoje está adormecida).

Confira, logo abaixo, outras matérias dos jogos que integram o catálogo do Super Nintendo no Switch Online.
Revisão: Davi Sousa

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google